A albufeira de Castelo de Bode apresenta um nível de água assustadoramente baixo para esta época do ano, o que está a causar grande preocupação a autarcas e agentes turísticos.
Figueiró dos Vinhos é um dos sete concelhos ‘banhados’ pela Albufeira do Castelo de Bode, e tem no lugar de Foz de Alge, habitualmente um dos bonitos postais ilustrados do concelho, um quadro desolador… O nível da água baixou drasticamente para uma cota que não terá paralelo nos últimos 30 anos, deixando a ‘nu’ o cais do Centro Náutico e colocando em risco as atividades de lazer e turismo que ali atraem muitas pessoas.
Em declarações ao Horizonte, o presidente da Câmara Municipal deu conta sua “preocupação” relativamente ao que está a suceder e, para além de lamentar o “período anormal de seca” que o país atravessa e também “não ajuda”, anunciou que irá “reforçar” a sua preocupação e “sensibilizar a empresa que utiliza a barragem para produzir energia sobre esta situação”. Jorge Abreu tem apostado bastante no turismo de natureza e o rio Zêzere é “fundamental na prossecução dessa estratégia”, estando em causa várias atividades ligadas ao parque de campismo, a pesca desportiva que anualmente utiliza é praticada naquele curso de água quer em competições de margem, quer de pesca embarcada, bem como a utilização da baía como praia fluvial, entre outras.
De acordo com o que o Horizonte conseguiu apurar, estará a ser turbinada água em níveis superiores ao habitual, para compensar a necessidade de energia, que aumentou depois do Governo desativar as centrais de produção de energia a carvão, como foi o caso da do Pego, em Abrantes.
Para além da produção de energia, a Albufeira de Castelo de Bode fornece água para abastecer uma vasta região até Lisboa, abrangendo um universo de cerca de três milhões de consumidores. Precisará de uma cota na ordem dos 100m para não colocar em causa esse abastecimento na sua plenitude e estava à data de 25 de janeiro com uma cota aproximada de 107m.
EMPRESÁRIOS DE TURISMO QUEIXAM-SE
“Não é só pela seca mas também porque a água está a ser turbinada”, disse o presidente da Associação dos Empresários de Turismo do Castelo do Bode (AETCB), tendo criticado a “falta de informação” e afirmado “não perceber por que motivo a EDP ou quem gere a barragem está a deixar ficar a um nível tão baixo que prejudica claramente a atividade turística”, tendo feito notar que “o acesso à água é quase impossível” para as atividades náuticas.
AGÊNCIA PORTUGUESA DO AMBIENTE ‘CULPA’ SECA
A APA – Agência Portuguesa do Ambiente, em declarações à Lusa, admitiu que os níveis na Albufeira do Castelo do Bode “estão abaixo da média”, mas considerou que isso se deve “ao facto de no presente ano hidrológico não ter ainda ocorrido precipitação significativa que permita repor os níveis de armazenamento após o verão”.
Questionada sobre se confirma, neste cenário de seca meteorológica, as descargas da EDP para produção de energia, a APA disse que “a situação está a ser acompanhada pela APA/DGEG/REN e produtores de energia hidroelétrica”.
A APA afirma estar “a acompanhar a situação” com os principais utilizadores no sentido de “promover um uso mais eficiente da água e a garantir a reserva de segurança” para o abastecimento público, numa situação que está a inquietar vários setores da sociedade.
Segundo a APA, “está já programada uma reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras no sentido de avaliar com os principais utilizadores e os representantes da administração dos diferentes setores as necessidades versus disponibilidades e as medidas a implementar nas situações que se considerem mais críticas”, sendo que, acrescenta, “com o evoluir da situação serão promovidas as reuniões regionais que se venham a considerar relevantes para de forma conjunta definir as medidas e a forma da sua implementação”.
Tendo em conta as preocupações públicas, a APA entende ser preciso “realizar uma gestão que permita garantir os usos prioritários e a manutenção dos ecossistemas aquáticos na albufeira e a jusante” e alerta os diversos setores e todos cidadãos que “devem aumentar a eficiência e a poupança” da água.
“Os efeitos das alterações climáticas fazem-se sentir cada vez com maior intensidade e como se verifica não basta construir barragens, é preciso que estas encham pelo que aposta tem de ser sobretudo na eficiência, na utilização de águas para reutilização, diminuindo os volumes de água natural captados”, conclui.