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Usos, Costumes e Tradições da Beira Litoral (XVII)

Marco Marques, 31 agosto 2022

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Usos, Costumes e Tradições da Beira Litoral (XVII)
A Festa do Bodo em Pombal

De origem remota, as Festas do Bodo que se realizam no final do mês de julho em Pombal são uma tradição muito importante para o concelho. A lenda fundacional acerca desta manifestação do património imaterial da região estará ligada a uma praga de gafanhotos e lagartas que assolou os pombalenses, invadindo habitações e contaminando alimentos. Esta calamidade terá impulsionado o povo a ir à Igreja de S. Pedro, então Matriz da Vila, e aí principiaram uma procissão de preces que acabou na capela de Nª Srª de Jerusalém. Após cerimónia litúrgica, a comunidade prometera uma festa se esta os livrasse de tal desgraça. A Senhora de Jerusalém terá atendido os clamores populares e, no dia seguinte, o nefasto invasor já tinha abandonado os campos e searas. Reconhecendo o milagre, celebrar-se-ia nova missa solene em ação de graças pelos benefícios obtidos, perpetuando-se desde logo as festas para o(s) ano(s) vindouro(s). Num artigo publicado no Almanach de Lembranças (1860), designado de «O Forno de Pombal» vem descrita por Francisco Monteiro de Carvalho, de Leiria, uma procissão de «pequeno apparato» que se realizava em Pombal pelo mês de julho. «N’um dos ultimos dias do mez de Julho percorre as ruas d’aquella villa uma procissão de pequeno apparato, de que faz parte um immenso bôlo, d’outo a dez alqueires de trigo, levado por uns poucos d’homens, e destinado a ser distribuido aos devotos como pão bento. É cosido por 24 horas n’um forno, onde entra tambem um homem, que é o mesmo todos os annos, e que se tem confessado e commungado. Pára a procissão ao pé do forno, que arde todo o dia, e assim que se lhe mette dentro o bôlo, entra logo em seguida o bom homem, com um disforme e grandissimo chapéu armado e de casaca quinhentista, depois de haver mettido na bôca um cravo que tira da mão da virgem que vai n’um dos andores, dá uma volta á roda do bôlo, e sahe com passo accelerado, posto seja velho e de andar naturalmente vagaroso. Muitos e estrepitosos foguetes sobem aos ares depois de haver o tal sujeito sahido milagrosamente, são e salvo, de dentro do forno, e logo recolhe a procissão. Creio piamente que o homem está de boa-fé e é o primeiro a acreditar no milagre que a Senhora faz por intermedio do seu cravo; mas o que tambem é certo é que a cousa se explica naturalmente. A porta do forno é bastante grande para que possão entrar por ella, de pé e quasi direitos, dous homens baixos alinhados de perfil; o bôlo, quando entra absorve grande parte do calorico; o homem abaixa-se ao andar-lhe em roda, tocando-lhe com as mãos, como para o endireitar, e assim se explica tudo» (Carvalho, 1859, p. 217).
(Continua)
Bibliografia: Carvalho, Francisco Monteiro de Carvalho. (1859). «O forno de Pombal». In Alexandre Magno de Castilho (dir.), Almanach de Lembranças Luso Brasileiro para 1860, (p.217). Lisboa: Typographia Franco-Portugueza.
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