A situação de seca severa que o país atravessa está a causar problemas de vária ordem e a escassez de água pode atingir as torneiras no concelho de Ansião. Dependente da captação da Ribeira de Alge, que se está a revelar insuficiente para as necessidades, está já em marcha a reposição de água nos reservatórios, através de autotanques. As entidades que gerem o abastecimento lançaram uma campanha de sensibilização para minorar os efeitos desta problemática.
“A captação de água existente na Ribera de Alge não está a assegurar a distribuição de água de forma regular em todos os seus pontos de entrega e consequentemente o normal abastecimento dos reservatórios existentes neste subsistema de água”, refere o presidente do conselho de administração da APIN, empresa que faz a gestão e operação dos serviços de água de 11 municípios. João Miguel Henriques clarifica que esta situação afeta, neste momento, “sobretudo o município de Ansião”.
“É uma situação que a APIN e a Águas do Centro Litoral estão a mitigar através do abastecimento de reservatórios com recurso a meios móveis e que se manterá pelo período necessário até a captação de água voltar à normalidade”, assegura este responsável.
Uma medida que não sendo a desejável é a possível e que também tem algumas condicionantes, pois “nem sempre é possível antecipar faltas de água em todos os reservatórios do sistema”, reconhece João Henriques, que destaca no entanto que “assim que são conhecidas situações anómalas, são acionados todos os meios disponíveis para restabelecer o normal fornecimento de água”.
Relativamente à qualidade da água para consumo, o facto de ser transportada em autotanques não a afeta: “os camiões que prestam este serviço são obrigatoriamente higienizados e abastecem em locais onde a água está devidamente tratada, ou seja, a água não perde qualidade”, garante João Henriques, explicando que “em alguns casos pode precisar de recloragem, isto é, ajustar a quantidade de desinfetante residual”. “No entanto a água tem a mesma qualidade tal como sai da torneira das nossas casas”, garante.
A APIN estima que hajam perdas de água na ordem dos 50% desde a captação até ao consumidor final e por isso encontra-se a implementar um projeto de Eficiência Hídrica, integrado no Plano Estratégico de Controlo de Perdas do Sistema de Abastecimento de Água, transversal a todo o Sistema e que representa um investimento de cerca de 5 milhões de euros em aquisição de equipamentos de controlo, medição e telegestão para a antecipação de fugas de água. Este projeto “já se encontra no terreno, com a instalação de medidores de nível nos reservatórios e medidores de pressão nas zonas de monitorização e controlo nas redes de distribuição”, esclarece Henriques que adianta que estão também em curso “intervenções de substituição de condutas com perdas elevadas e o uso de software de telemetria (para a monitorização de perdas e fugas) e o software de otimização de programas de receção de perdas e fugas”. Aquele responsável entende que para além de ser uma realidade local, “a aposta na área da eficiência hídrica é uma necessidade urgente a nível global”.
“Vamos Fechar a Torneira à Seca”
A APIN associou-se à campanha de sensibilização do Ministério do Ambiente, Águas de Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente e ERSAR, apelidada “Vamos fechar a torneira à seca”. João Miguel Henriques considera “imperativo tomar uma posição e apoiar este tipo de iniciativas”, até porque “Portugal está a viver de momento uma seca severa e extrema em cerca de 90% do seu território, situação que levou à ativação de um conjunto de medidas previstas no Plano de Prevenção, Monitorização e Contingência para Situações de Seca aprovado pela Comissão”.
Esta campanha de sensibilização é assente na ideia “tempo”, por considerar “fulcral consciencializar as pessoas de que um minuto de desperdício de água é o suficiente para garantir as necessidades básicas diárias de 1 milhão de pessoas”, destaca o autarca de Vila Nova de Poiares.
João Miguel deixa alguns conselhos aos consumidores da região do Pinhal Interior, dizendo ser imperativo a “racionalização do consumo de água”, limitando, sempre que possível, ao uso doméstico essencial, isto é, “hidratação de pessoas e animais, confeção de alimentos, higiene e cuidados primários de saúde”.
Entre os conselhos e apelos da APIN, destacam-se os de reduzir o tempo de rega dos espaços verdes e restringi-la aos horários de menor calor; evitar o desperdício nas piscinas e espaços lúdicos, lavagem de viaturas e infraestruturas particulares (terraços, etc.)
O presidente do CA da APIN termina, referindo que “a mudança de comportamentos, por parte dos cidadãos, é fundamental para minimizar os impactos negativos da escassez de água e assegurar o abastecimento necessário à saúde e a qualidade de vida das populações”.
AdCL cria duas aduções adicionais
A empresa Águas do Centro Litoral (AdCL), que faz a distribuição em alta, tem em curso “um plano de contingência” para “evitar perturbações no fornecimento de água para consumo humano”.
“A área que exige um acompanhamento mais próximo desde o início de agosto é a Ribeira de Alge, origem de abastecimento de água do subsistema que serve o município de Ansião e áreas geográficas adjacentes do município de Figueiró dos Vinhos”, explica a AdCL.
Em declarações ao jornal Região de Leiria, a empresa adiantou que, no caso particular da Ribeira de Alge, ativou o seu plano de contingência no início de agosto, no âmbito do qual procedeu “ao reforço de monitorização diária dos volumes captados, a trabalhos de limpeza e, quando necessário, ao abastecimento de água ao reservatório Alto da Serra, que faz a distribuição para pontos de entrega do município de Ansião, através de autotanques desde a ETA do Cabril, pertencente à EPAL”.
“Nas próximas semanas está previsto o reforço das disponibilidades de água com recurso a duas aduções adicionais – uma semi-superficial e uma subterrânea -, que se prevê possa contribuir para regularizar a situação”, adianta a AdCL.
Numa colaboração da EPAL, “visando identificar intervenções para minimização de perdas de água, está ainda em curso um processo particular de avaliação do sistema de abastecimento de água da Ribeira de Alge”.
A monitorização da AdCL é também acompanhada por um sistema de telegestão, uma plataforma que “foi alvo de um recente investimento e que permite uma vigilância permanente dos níveis das captações e do funcionamento operacional dos subsistemas de abastecimento de água explorados”.
«Estamos a trabalhar para que não falte água em casa das pessoas»
António José Domingues, Presidente da Câmara de Ansião
A afirmação é do presidente da Câmara de Ansião e foi proferida na reunião do executivo de 16 de agosto, num momento onde se aflorava a preocupante situação de seca severa e consequente implicação da captação e distribuição de água no concelho.
António José Domingues reconheceu que “a situação é preocupante” - é-o a nível nacional e requer “investimentos estratégicos na captação sob o risco de no futuro a situação se agravar ainda mais”.
O autarca disse que tem sinalizado a importância desta questão em diversos fóruns e junto das entidades que gerem o sector (Águas do Centro Litoral e APIN), isto numa altura em que os consumos domésticos aumentam e capacidade de captação diminui.
O edil disse que normalmente o volume da captação na Ribeira de Alge é de cerca de 5 mil metros cúbicos por dia, números que atualmente baixaram para cerca de 3 mil, o que está a levar já a vários procedimentos de reforço dos reservatórios através de autotanques.
Não estando prevista chuva suficiente para repor os caudais nos próximos tempos, o autarca apela aos munícipes que sejam cuidadosos no uso da água da rede, evitando ao máximo desperdícios e dando conta de uma campanha para o uso responsável da água. Opinião corroborada pela vereação, tendo José Lucas (PSD) defendido uma campanha mais visível e agressiva, que fizesse as pessoas poupar efetivamente no uso da água doméstica.
António José Domingues disse que, enquanto não forem feitos investimentos estratégicos – deu exemplo da captação de água na Albufeira do Cabril através de conduta – é obrigação dos responsáveis “trabalhar para que a água não falte em casa das pessoas”, dando conta que a AdCL “está preparada para reforço nos reservatórios através de autotanques”.