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Os 100 anos do nascimento de Armando Simões Fareleiro

Marco Marques, 30 janeiro 2020

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Os 100 anos do nascimento de Armando Simões Fareleiro
Armando Simões Fareleiro nasceu no Casal de Santo António, em Avelar, a 4 de fevereiro de 1920. Era o mais novo dos 5 filhos de Manuel Simões Fareleiro e Elvira da Piedade Moreira.
Depois de completar a instrução primária, ingressou no ensino liceal no Colégio da Rascoia (em Avelar) do Dr. Humberto Luís Paiva de Carvalho, vindo a completar esse nível de ensino no Colégio Alexandre Herculano em Coimbra. Regressado a Avelar, passou a ajudar os Pais e a aprender a arte de tecer, na fábrica artesanal de xailes de que eram proprietários.
Seus Avós maternos tinham iniciado o fabrico artesanal de xailes e mantas na Lomba da Casa, concelho de Figueiró dos Vinhos. Possuíram uma pequena participação na Fábrica Moreira e Companhia, que teve origem na compra de uma fábrica em Coimbra ligada à Indústria de Lanifícios. O Avô materno, José Duarte Moreira e os filhos, foram impulsionadores da passagem da indústria artesanal para a indústria mecânica. Porém, seus Pais nunca deixaram a indústria artesanal e a pequena agricultura no Casal de Santo António.
Chegada a idade de cumprir o Serviço Militar, “assentou praça” primeiro em Tavira – Algarve onde fez a “recruta” e terminou depois tal Serviço em Tomar.
Volvida esta etapa da vida, voltou a casa nos inícios dos anos 40. Concorreu às Finanças, mas não foi admitido. Com a aproximação da 2ªGuerra Mundial, e como tinha uma sua irmã casada e a viver na cidade da Beira, tentou ir para Moçambique, tentativa essa gorada por não ter conseguido embarcar a tempo de escapar a uma segunda mobilização militar.
Entretanto seu Pai Manuel Simões Fareleiro adoecera e passado pouco tempo deixaria de funcionar a Fábrica artesanal que possuía.
Terminada a Guerra e novamente em Avelar, lançou-se na criação de uma Fábrica de Lanifícios com o nome de seu Pai, na qual utilizou o alvará existente para montar uma pequena unidade de 2 teares mecânicos. Com a promessa de apoio financeiro de seu irmão e cunhados (promessa essa nunca concretizada), lançou-se na construção de edifício próprio e compra de teares de Castelo Branco.
Foram muitas as dificuldades nesta fase da sua vida! É disso exemplo um episódio marcante. Tinha montado provisoriamente os teares e restantes equipamentos na casa ao lado onde viria a morar, mas foi obrigado por mais de um ano a suspender a laboração devido a uma queixa relacionada com o barulho que os teares faziam.
Em 15 de fevereiro de 1947 casa com sua prima Isaura Fernanda Moreira Pintassilgo e é do sogro, Adelino Antunes Pintassilgo que tem todo o apoio, inclusivé financeiro.
Depois de estar minimamente construída, mas não acabada, a instalação fabril no lugar “Alto Prazo” – Tojeira em Avelar, deu início à fabricação de tecidos. Volvidos alguns anos de crescimento e de investimento de resultados obtidos, surgiu a necessidade de criar uma unidade de Ultimação e Tinturaria. Para tal investimento associou-se a seu primo Vitorino Moreira Fino, também industrial de Lanifícios na V. Fino Lda. (unidade a laborar então há mais tempo), e a António Rosa Pais e cunhado Armando da Silva, ambos sócios da firma Manuel Nunes Bráz Lda.
A parceria entre as três unidades fabris – V. Fino Lda.; Manuel Nunes Bráz Lda.; Manuel Simões Fareleiro,Lda. – proporcionou um grande crescimento económico. Foi dessa parceria que nos finais dos anos 50 surgiu o projeto da construção de uma Fiação, projeto esse considerado de extrema complexidade e dificuldade, não só por ser necessária a obtenção de um alvará, mas sobretudo pelo elevado envolvimento financeiro para o qual não tinham capitais suficientes.
Apesar das dificuldades não desistiram! Tendo tido conhecimento que a família Balsemão era detentora de um alvará de uma Fiação que fechara na Guarda, obtiveram o apoio do Dr. Guilherme Bráz Medeiros (então sócio do Diário Popular, também propriedade da família Balsemão) para a aquisição de tal alvará. Mas uma unidade de fiação exige técnicos avalisados. É assim que são convidados os irmãos Matalonga, na altura os melhores técnicos e mais bem pagos na Indústria de Lanifícios, que estavam em Mira d’Aire (Jorge Matalonga – técnico de fiação e Luis Matalon-




















ga – tintureiro).
Surge então a Sociedade Anónima FIAR – Fiandeira de Avelar, SA, em que são sócios Armando Simões Fareleiro e Vitorino Moreira Fino com 20% do capital cada um, António Rosa Pais com 10%, Dr. Guilherme Bráz Medeiros com15%, irmãos Matalonga com 15% cada um e família Balsemão com 5%. Na época, Armando Fareleiro e Vitorino Fino percorreram vários países europeus para a adquisição do equipamento necessário para se dar início à fabricação de fio.
Esta unidade fabril teve um grande êxito não só para os sócios como para as três principais indústrias de tecelagem citadas anteriormente. A década de 60 que se seguiu, veio criar um crescimento na vila de Avelar provavelmente difícil de igualar. Vieram técnicos trazidos pelo crescimento das fábricas. A firma Fareleiros foi a primeira a contratar um Debuxador. Foram contratados operários especializados no Tortosendo, na Covilhã, em Gouveia e outras localidades onde havia uma indústria de lanifícios mais desenvolvida (existem ainda hoje em Avelar várias famílias originárias dessas localidades e a vários funcionários foi possível proporcionar estudos e formação técnica específica).
Desse crescimento é possível apontar como projetos onde Armando Fareleiro esteve envolvido, muitos deles liderados por Alfredo Dias Coelho e apoiados por muitos avelarenses e os bons contatos do Dr. Brás Medeiros, a criação do Colégio Infante de Sagres, a transformação do Hospital, a constituição da Fundação de Nª Sª da Guia (responsável pela primeira e reduzida rede de esgotos, bem como pioneira na distribuição de água ao domicílio em Avelar).
Transcorrida a época de 60, no início dos anos 70, com a saída dos filhos de Avelar para continuarem os estudos, primeiro numa curta passagem por Coimbra e depois em Lisboa, aí comprou casa tendo-se dedicado à compra e venda de propriedades. Em Coimbra participou na sociedade de duas lojas de pronto a vestir.
Depois do 25 de Abril de 1974, nos tempos conturbados que se seguiram, surgiram alguns problemas ultrapassados com esforço, onde não é possível esquecer a atitude dos operários fabris que nunca fizeram qualquer greve.
No início anos 80, já com a participação dos filhos, é criada a unidade de confeções Pivot Confeções Lda. (teve origem numa dívida de um cliente de Viseu que foi saldada com a entrega de uma linha de calças que não estava a ser utilizada).
Na sua vida, esteve sempre ligado a iniciativas que ocorressem em Avelar sendo manifesto o gosto especial que estas tivessem êxito. É disso exemplo o reaparecimento do Atlético Clube Avelarense, disponibilizando por exemplo as instalações fabris livres para realização de várias festas, sobretudo Passagens de Ano, que vieram a permitir uma angariação de fundos considerável para a compra dos terrenos do campo de futebol e as primeiras obras aí realizadas.
Em 1984 ficou gravemente doente, vindo a falecer em 26 de fevereiro de 1989, quando tinha completado 69 anos.
Como empreendedor nato, pôde orgulhar-se na obra que foi a sua vida!
José António Fareleiro

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