A frase em título é da autoria do comandante dos Bombeiros Voluntários de Ansião e foi proferida nas comemorações do 66.º aniversário da Associação Humanitária local, refletindo um estado de espírito de algum desânimo relativamente à forma como os bombeiros são tratados, sobretudo pela tutela.
José Antunes lamentou que “só se lembrem dos bombeiros quando precisam deles” e a consequência são “sinais de alarme a tocar”, com “cada vez mais pessoas a abandonarem a carreira”. O comandante ansianense referia-se à falta de incentivos e benefícios para os voluntários e à insuficiente remuneração dos profissionais. Neste último caso, deu o exemplo dos elementos das Equipas de Intervenção Permanente (EIP) que recebem vencimento repartido de duas entidades diferentes e cuja compensação financeira “fica muito aquém do que conseguiriam a trabalhar em uma qualquer empresa do concelho”.
Prometendo “continuar a defender e a dar voz aos bombeiros”, José Antunes agradeceu o esforço e dedicação dos seus 81 elementos do quadro ativo, incentivou os 14 que frequentam a Academia e deixou também palavras de agradecimento ao apoio da direção da Associação Humanitária.
«VIVEMOS TEMPOS DIFÍCEIS
E DE GRANDE EXPETATIVA»
Rui Rocha, eleito há poucos meses para mais um mandato à frente da Associação Humanitária, onde já está há 17 anos, disse que se vivem “tempos difíceis e de grande expectativa sobre qual o papel dos Corpos de Bombeiros em toda a estrutura da proteção civil nacional” e também “de grande incerteza relativamente à sustentabilidade financeira e futuro de muitas Associações Humanitárias de Portugal”.
O dirigente afirmou que se tem assistido “à chegada de vários novos intervenientes à proteção civil, com particular destaque no combate aos incêndios, mas nunca ninguém se deve esquecer que a grande massa humana disponível para estar nos teatros de operações são as bombeiras e os bombeiros”.
“A população não percebe, nem quer saber, de todas essas forças e equipas especializadas, com siglas que até a nós nos chegam a confundir, pois, como não me canso de referenciar, no momento da aflição as pessoas só gritam pela presença dos bombeiros de Portugal à sua porta”, frisou.
Por isso, Rocha entende que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil deve “pensar e olhar para os Bombeiros de Portugal de forma diferente e diferenciada”.
Também crítica foi a sua posição relativamente às verbas disponíveis no Portugal 2030 para a Proteção Civil: “os tais 122 milhões de euros que a senhora Secretária de Estado andou pelo País a propagandear, com a sua transferência para as Comunidades Intermunicipais, estou bastante cético relativamente às reais possibilidades das Associações Humanitárias poderem vir a beneficiar de tais apoios”.
Rui Rocha reafirmou que as Associações Humanitárias “em muitas circunstâncias se substituem ao Estado”, por isso exige que “no mínimo nos paguem a tempo e horas”. Uma situação que “se tem vindo a agravar”, designadamente no que ao serviço de transporte de doentes não urgentes diz respeito. E deu exemplo: “ainda estamos à espera de requisições de Abril para cá, o que somando ao valor em dívida do CHUC, da ARS e do INEM, não andaremos longe de 100.000 euros que nos estão a dever por serviços prestados há meses, para uma Associação onde o Orçamento anual ronda 1 milhão de euros”.
Porque nem tudo é mau, o presidente da Direção da AHBVA, destacou o apoio e carinho recebido da sociedade civil e das empresas, nomeadamente no Cortejo de Oferendas que permitiu uma angariação na ordem dos 130 mil euros. Agradeceu também às coletividades que têm organizado eventos a favor da Associação e à Câmara Municipal pelos apoios concedidos.
«BOMBEIROS SÃO ESTEIOS DO SISTEMA
DE PROTEÇÃO E SOCORRO»
O presidente da Câmara de Ansião concordou que a valorização das associações e dos corpos de bombeiros voluntários, enquanto “esteios do sistema de proteção e socorro”, passa, necessariamente, pelo “reforço dos incentivos ao voluntariado e pela dignificação da função social e humanitária do bombeiro”. E nesse quadro aludiu ao Regulamento de Apoios Sociais aos Bombeiros criado em 2021 e que já foi concretizado em 2022 e 2023 e que será agora revisto. “Iniciaremos no próximo ano a revisão do Regulamento, com o objetivo de melhorar os apoios sociais, num claro reconhecimento do papel dos bombeiros de Ansião”, disse António José Domingues.
Um reconhecimento que o autarca vincou com dados: “desde 2017 reforçámos as transferências e a disponibilidade permanente para apoiar sempre que necessário investimentos pontuais e importantes para a AHVB de Ansião”. “Nestes últimos seis anos aumentámos o subsídio ordinário em 70%, com o aumento previsto para o próximo ano de 2024 atingir-se-á um aumento de 90%, este executivo está quase a duplicar a verba que em 2017 era transferida para esta Associação”, considerou.
Exemplo disso foi a recente atribuição de um subsídio de cerca de 65.000 euros que permitiu a aquisição de uma ambulância de socorro, benzida no final da sessão.
Medidas que, na opinião do autarca, sustentam o cumprimento com as atribuições e competências que estão cometidas por lei à autarquia, “nunca descurando ou desvalorizando o apoio financeiro, que continuará a dar, a bem do reforço das suas necessidades e capacitação, por forma a que as condições de prestação de serviços à população esteja sempre assegurado e na melhores condições”.
O edil deixou palavras de agradecimento aos bombeiros: “reconheço a vossa entrega à causa pública e sabemos que lá fora em muitas horas do dia e da noite, gente anónima, em dificuldades e doenças precisa de vós e o Município de Ansião conta convosco para continuarem a dar o vosso melhor em prol dos outros”.
E a terminar, deixou um pedido: “não deixem nunca que as incertezas ou as aflições se sobreponham ao reconhecimento da nobre missão que é estar disponível, em qualquer circunstância, em qualquer momento, a qualquer hora, para ajudar os outros, tantas vezes… para salvar vidas”.
CONDECORAÇÕES E DISTINÇÕES
Para além dos discursos - que incluíram ainda intervenções do presidente da Assembleia Geral da AHBVA Fernando Marques, do presidente da Assembleia Municipal de Ansião José Miguel Medeiros, de Nélio Gomes (Liga Bombeiros), de Francisco Peraboa (ANEPC) e de Mário Bruno Gomes (Federação Bombeiros Distrito de Leiria), - a sessão solene de comemoração dos 66 anos da AHBVA teve muitos outros momentos de destaque. O dia 17 de dezembro foi de festa para a família bombeirística e começou cedo com desfile de efetivos e de veículos. Na cerimónia, e já depois da admissão de 7 novos elementos no Corpo Ativo, foram condecorados 19 bombeiros por 5, 10, 15, 20 e 25 anos de serviço e também distinguido o bombeiro do ano, no caso a bombeira Sónia José.
Em termos diretivos foi homenageado o dirigente José Fernandes Francisco pela sua dedicação à Associação durante largos anos, sendo-lhe atribuída a medalha de serviços distintos – grau ouro.
No final da cerimónia e anteceder o almoço convívio, foram benzidas as duas novas viaturas. À ambulância adquirida através do apoio da Câmara foi atribuído o nome de Maria do Céu Moreira, de Avelar, falecida em 2022 e que deixou à AHBVA em testamento um valor na ordem dos 35 mil euros.
Já o camião trator foi ofertado pela empresa Lusosicó e encontra-se preparado para ser equipado com uma cisterna com capacidade para 30 mil litros de água, investimento ainda à espera de financiamento.
NOVE EMPRESAS DISTINGUIDAS
A direção da AHBVA propôs à Liga dos Bombeiros Portugueses a atribuição da Medalha de Serviços Distintos – Grau Prata a algumas empresas que “tiveram a disponibilidade para colaborar de forma diferenciada”. Foram 9 e os seus representantes receberam a distinção na sessão solene: Automecânica Alvorgense, Bockemuehl, Elimur, Ferrus, Friesen, Linha Ambiente, LM Perfis, Tecnopan e Transtomás.