Os antigos combatentes do concelho de Ansião que estiveram no Ultramar, têm um monumento em sua homenagem no centro da Vila, junto à Praça do Município. A inauguração decorreu no dia 10 de outubro, na presença de várias centenas de ex-combatentes, seus familiares e autarcas, bem como do presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-General Joaquim Chito Rodrigues, e representantes do Núcleo de Abiúl/Pombal e do Núcleo de Leiria desta Liga.
A iniciativa partiu de representantes locais da Liga dos Combatentes e mereceu o apoio da Câmara Municipal, tendo o monumento sido criado pelo escultor ansianense Fernando Freire.
Depois de escutado o hino nacional, o Tenente-General Chito Rodrigues, relembrou “os que há 60 anos partiram, deixando as famílias para trás”, cumprindo “ordens do poder político”. O presidente da Liga dos Combatentes referiu que “não foram os militares que perderam a guerra – foram os políticos” e enalteceu o “esforço e sacrifício de todos os que lutaram pela pátria”. Considerando que “os militares deram a Portugal a Democracia”, Chito Rodrigues mostrou-se satisfeito por “finalmente o país começar a reconhecer o papel dos antigos combatentes”. Referindo-se à criação do Estatuto do Combatente – que demorou 47 anos – o presidente da Liga disse “há ainda muito por melhorar” e pediu que o poder político reveja as leis e os apoios aos antigos combatentes, denunciando que ainda existe “muito sofrimento e pensões de pobreza”. No ano que assinala o centenário da Liga dos Combatentes, Joaquim Chito Rodrigues mostrou-se satisfeito por Ansião ter reconhecido o papel dos seus antigos combatentes, juntando-se às mais de 400 localidades que perpetuam pelo país o esforço dos antigos militares, mas acentuou a necessidade de o Governo “passar do reconhecimento moral para o reconhecimento material”, voltando a pedir a melhoria dos suplementos de pensão para os ex-combatentes.
Já o presidente da autarquia, disse na sua intervenção, estarmos perante “um dia de encontro com a nossa memória e história coletiva”. “A cerimónia de homenagem que hoje aqui realizamos é um momento indelével e marcante de reconhecimento e de justiça coletiva a quem nos idos de 60 e 70 do século passado, de forma heroica e patriótica se despojou do seu futuro e partiu para a defesa de territórios desconhecidos, de cuja lembrança e conhecimento, guardavam dos ensinamentos dos bancos da escola”, acrescentou.
António José Domingues disse que o município se associou de imediato a uma “justa mas tardia homenagem”, aos homens que lutaram nas províncias ultramarinas “contra um inimigo que não era deles, pela manutenção de um império que a eles não acrescentava nada de relevante para as suas perspetivas de futuro ou na construção do seu sonho de vida”. O autarca disse que “muitos viram roubados ou adiados parte da sua juventude e dos seus projetos de vida. (…) Alguns deles não regressaram, muitos trouxeram com eles traumas, mutilações e o coração despedaçado”.
Lembrando que “o governo do Estado Novo rejeitou a descolonização e a história não se repete”, Domingues disse ser “justa a homenagem que hoje prestamos a todos aqueles que combateram o combate da liberdade e da justiça e não apenas na guerra do Ultramar”.
No final da cerimónia e já depois de benzido o monumento e de serem depositadas duas coroas de flores em memórias dos combatentes já falecidos, receberam diplomas da Liga os netos dos ex-combatentes ansianenses Antero Costa e Armando Mendes Claro.